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Novas drogas para Leishmaniose e Chagas

Por Marina Saraiva

 A Leishmaniose e a Doença de Chagas são comuns em países da Zona Tropical do globo mas afetam principalmente as populações de baixa renda. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica ambas como doenças negligenciadas, uma vez que pouco se produz e se investe na indústria farmacêutica para seu tratamento.
 Os medicamentos utilizados atualmente no tratamento de ambas as doenças têm causado efeitos adversos e em 10% deles as drogas precisam ser suspensas.
Fig. 1  Barbeiro (Triatoma infestans)
Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,EMI261451-17770,00-DOENCA+DE+CHAGAS+AFETA+MIL+PESSOAS+NOS+EUA+SEGUNDO+ESTIMATIVAS.html
Doença de Chagas
Fig. 2  Protozoário Trypanossoma cruzi
Fonte: https://www.cdc.gov/dpdx/trypanosomiasisAmerican/gallery.html
 A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanossoma Cruzi, transmitidos pelo inseto Barbeiro (Triatoma infestans) e outros da família Triatominae. Dados da OMS de 2013 apontam que cerca de 8 milhões de indivíduos no planeta são afetados pela doença, com 12 mil mortes anuais e 65 milhões de pessoas em risco de exposição. A doença apresenta uma fase aguda (DCA) que pode ou não ser identificada e tem tendência à evolução para formas crônicas caso não seja precocemente tratada com medicamento específico.
 Os sintomas são febre, aparecimento de gânglios, crescimento do baço e do fígado, alterações elétricas do coração e pode ocorrer inflamação das meninges nos casos graves. Durante a fase aguda os sintomas duram entre três e oito semanas. Na fase crônica, os sintomas estão relacionados com distúrbios cardíacos e gastrointestinais. Muitos portadores da doença de Chagas passam de 20 a 30 anos sem apresentar quaisquer sintomas.

Leishmaniose
 A leishmaniose é transmitida por insetos hematófagos conhecidos como flebotomíneos (subfamília Phlebotominae). Entre os parasitas causadores da Leishmaniose encontram-se L. brasilienses, L. chafasi, L. mexicana, L. amazonensis, todos protozoários. A leishmaniose manifesta-se em sua forma cutânea e visceral (mais grave).Os dados da OMS apontam 12 milhões de infectados no mundo, com 30 mil mortes por ano e 350 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco.
Fig. 3 Exemplo de flebostoma.
Fonte: http://www.mdsaude.com/2010/05/leishmaniose.html
 A leishmaniose cutânea, ou mucocutânea, produz lesões ulcerosas ou não na derme (pele), mucosas nasais, bucais e da faringe. Na leishmaniose visceral, também denominada calazar, o parasita apresenta afinidade com o sistema fagocítico mononuclear do baço, do fígado, da medula óssea e dos tecidos linfoides.

Novos remédios
 A partir de uma planta do cerrado conhecida como cervejinha-do-campo (Arrabidaea brachypoda), cientistas do Instituo de Biociências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em São Vicente, da Universidade de Genebra - Suíça, e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), isolaram uma nova família de moléculas com potencial para um novo medicamento contra a doença de Chagas. A nova substância testada não apresentou toxicidade nas doses aplicadas e pode ser sintetizada em laboratório.
Fig. 4 Cervejinha-do-cerrado (Arrabidaea brachypoda)
Fonte: http://arboretto.blogspot.com.br/2007/11/arrabidea.html
 Pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz conduzem outra linha de pesquisa, voltada ao reposicionamento de fármacos já existentes e associações terapêuticas. Tal linha de pesquisa reduz os custos e o tempo de pesquisa pois as drogas em questão já passaram pelos testes toxicológicos. No momento, estudam antidepressivos orais com base na sertralina para a leishmaniose visceral e cutânea e para a doença de Chagas. O trabalho indicou que a sertralina se mostrou como fármaco potencial contra a Leishmania infantum (causadora da leishmaniose visceral no Brasil) e a Leishmania amazonensis (causadora da forma tegumentar no país). A sertralina também atuou no T. cruzi, no qual preservou a célula hospedeira e matou o parasita.
Fig. 5 Molécula de cloridrato de sertralina
Fonte: http://www.iqb.es/cbasicas/farma/farma04/formulas/sertralina.jpg
 Entretanto, tais resultados foram obtidos in vitro e podem não se repetir in vivo, por isso os testes em animais já começaram e estão sendo realizados pelo Instituto Adolfo Lutz, pelas universidades de Dundee - Escócia, de San Pablo - Espanha, e na Faculdade de Ciências Faracêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). Para ampliar a eficácia, o próximo passo será ministrar a sertralina com o benznidazol (medicamento já existente no mercado) no combata à doença de Chagas. Contra a leishmaniose a sertralina será associada com anfotericina B e miltefosina.
 Uma terceira pesquisa realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), está focada no combate à leishmaniose cutânea. Hoje seu tratamento consiste em injeções diárias de antimônio, o que causa fortes efeitos colaterais e seu acesso por moradores de comunidades mais isolados é difícil, sendo que apenas postos de saúde e hospitais fazem as aplicações. O trabalho realizado na UFRJ prevê um remédio de aplicação única, por meio do implante de nanopartículas no local infectado, com liberação gradual da droga na pele.
 Duas drogas estão sendo estudadas para serem utilizadas, que poderão, futuramente, serem utilizadas conjuntamente em um único implante. A molécula chalcona CH8, sintetizada a partir de uma molécula da planta Piper aduncum, mostra-se como a mais promissora, porém ainda está na pré-fase de testes em animais e seres humanos. Outra aposta é a utilização da anfotericina B (já utilizada no tratamento da leishmaniose) na pele, que não gera os efeitos colaterais comuns de quando se é administrada via muscular.
Fig. 6 Piper aduncumFonte: http://www.discoverlife.org/IM/I_TQBH/0050/320/Piper_aduncum,I_TQBH5077.jpg
 Todas as pesquisas citadas estão nas fases pré-clínicas, onde os testes são realizados em outros animais e no ser humano.


Referências:
ZAPAROLLI, D. Novos remédios para velhas doenças. Pesquisa Fapesp, n. 243, maio 2016. p. 74-76. 

Biblioteca de Manguinhos <http://www.fiocruz.br/bibmang/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=102&sid=106

Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos <https://www.bio.fiocruz.br/index.php/doenca-de-chagas-sintomas-e-prevencao> Acesso em: 04 jan. 2017

Portal da Saúde <http://portadasaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/svs/doenca-de-chagas> Acesso em: 04 jan. 2017

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